Ontem completamos 70 dias de distanciamento físico social. 70 dias de gangorra emocional.
Saídas somente para urgências. E a vivência dos dois dias mais estranhos da minha vida, em que fomos fazer vacina na empresa do meu marido e fomos entregar um presente para nossa madrinha de casamento – tudo esterilizado, com máscaras, luvas, e um coração repleto de saudade gritando por abraço e carinho, sem nem poder aproximar pro aperto de mão.
Sem rede de apoio física. Sem mãe aqui presente. Com apoio psicológico de terapia online, cursos e busca continuada pelo autoconhecimento.
Sem auxiliar de limpeza. Com muito ânimo pra manter a casa minimamente organizada. Com o pó que podemos suportar no dia de hj.
Sem escola pra Lulu. Com muita disponibilidade pra brincadeira, diálogo, presença, aberta ao tempo da criança e flexibilizando o tempo do adulto. E muito revezamento com meu marido, pra gente poder trabalhar.
Sem vírus. Com medo de ser contaminado e contaminar. Com cautela, cuidado e confiança de que estamos fazendo nossa parte.
Com ansiedade. Com cobrança.
Com leveza. Com calma, tomando a medida exata de cada coisa em seu devido lugar, no que for possível para hj.
Com raiva do desprezo político pela vida. Com raiva da crise econômica e principalmente moral. Com uma tristeza absoluta pelas perdas de todas as pessoas. Mas mais triste pela ignorância e falta de empatia.
Com Esperança. Com fé. Com muita força de vontade pra germinar no meio do deserto palavras de consciência, paz e união através do meu trabalho como psicóloga.
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