Se hj eu tivesse um fixo, certamente ligaria para Dona Remy, a matriarca da minha família materna. Só que não posso. Não tenho mais o dito cujo de tecla gigante e cabo comprido, mas tb não tenho mais a presença encarnada da artista de personalidade forte que foi minha vó.
Sua presença permanece aqui infinitamente no meu coração, colorindo espaços de saudade das histórias e dos nossos encontros. Se hj ela estivesse do outro lado do fixo, eu diria da saudade arretada da sua massagem nos meus pés. Juntinhas no sofá, maratonávamos as novelas do entardecer.
Falaria tb das massagens dadas, noite a noite, ao pé da sua cama, que a perfumava ou alivia suas dores nas articulações. Lembraria dos incontáveis filmes vistos na sua cama em que eu me aconchegada feito bem-te-vi. Chato era quando o ronco dela tão alto afastada meu sono e eu ficava a contar carneirinhos. Por isso eu sempre rezava pelas almas do mundo e para dormir antes dela.
Ah, ela não deixaria de me contar o que preparou no almoço e uma boa nova de algum parente distante da família, mesmo que eu nem me atinasse de perguntar. Só sei que cada suspiro seriam homeopatia pra curar a angústia e o isolamento dos tempos atuais.
Se pudesse, numa pausa serena e profunda, relembraria suas vitórias da cura de um câncer e de outras mazelas vividas. Celebraríamos sua potência de mulher!
Que falta me faz um fixo. Mas falta maior é a da impossibilidade da ligação real. Faço então uma ligação surreal, para o outro lado de um “Lá” ainda muito incompreendido.
Pego um fixo imaginário e me comunico com ela na fantasia do meu coração. É o que temos pra hj.
E vc, tem vivos teus amados velhinhos?
Se te faz sentido, não te demora a ligar e a brincar com as incertezas da existência numa prosa descontraída.
Seja ponte de amor e de construção da intimidade, tesouro que nem a pior morte leva. Seja aquele que valoriza a existência desses gigantes que abriram os caminhos para nós. Faça valer a pena cada vínculo vivido.