Minha casa tem muitas janelas. De uma posso ver o nascer da lua, tão linda refletindo sua luz dourada quando está cheia. Me enche de esperança e energia.
De outra janela, posso ver carros passando, passarinhos cantando e flores dançando. Posso ver crianças da vizinhança brincando e pessoas caminhando com suas máscaras. Outras usando máscara no queixo ou no pescoço (sem entender bem a intenção). Outras sem máscaras e ainda em grupos, confraternizando uma vida coletiva vivida perigosamente (talvez inocentemente). Fugindo da solidão? Distraindo o relógio da incerteza do futuro?
Não sei. Uma janela é sempre somente uma janela – das casas, apês, navegadores da internet. Sempre um recorte da vida de alguém e sem legenda.
A partir da imagem vista, muitas vezes congelo as pessoas em preconceitos e julgamentos meus, de acordo com o que tá doendo dentro de mim. Se vejo desprotegidos, sei lá por qual razão, já vem logo o pensamento do quanto são irresponsáveis ou que talvez estejam com muita dificuldade de permanecer nas suas casas.
Pra alguns, a casa é abrigo. Pra outros, é prisão, é armadilha violenta, é lugar de falta de pertencimento e de acolhimento. Da janela da minha casa (segura), julgo os que estão fora das suas sem nem conhecer seus motivos inseguros.
Muitos precisam trabalhar (por missão ou por medo de perder o emprego). Muitos precisam dar vazão à angústia e opressão externa e interna. Muitos precisam de rede de apoio. Por muitos motivos que ainda desconheço, vejo muitos lá fora, por necessidades econômicas, sociais ou de alma.
Em busca de julgar menos, me atenho ao sentimento de vulnerabilidade e desproteção que sinto quando os vejo se colocando em risco desnecessariamente (será?). Da janela, busco a luz que clareia a todos. Busco compreensão da pequena vista de um ponto.
Olhando pra fora, olho pra dentro. Vejo a ferida de abandono e rejeição que cicatriza em mim com o tempo. Procuro a cura em mim, através de ti. Obrigada por ser um espelho e refletir a mim mesma.
#clareanasara #psicologiadoluto
